Tu, mas é a dor



Tu. Todos os dias: tu.
Finjo que não são os teus olhos que procuro;
Que não são as saudades de nós que me destroem.  
Finjo porque és tu, e já não deverias ser.
Mas é a dor. Mas és tu.
Como se esquece alguém que já partiu 
mas teima(o) em ficar?
Como se odeia? 
Alguém que me ensine a sentir o que é o rancor!
Dóis-me tanto.
Choro-te tanto.
Quero-te tanto.
Mas é a dor.
E como se pode amar alguém além da dor?
Como se pode viver com alguém para além da dor?
Magoaste-me tanto...
Que nem nestas palavras que hoje te escrevo 
o consigo descrever.
E eu só precisava da tua mão na minha.
Mas talvez o amor ainda seja um risco muito alto para ti...
E agora aqui, desfeita, finjo.
Porque tudo me parece pouco. 
E tudo porque me foste muito.
Me és muito. Acreditei.
E no entanto, nunca ninguém me foi tão pouco. Morri.
A maior crueldade é abandonar quem estaria 
sempre ao nosso lado.
Dóis-me tanto.
Choro-te tanto.
Quero-te tanto.
Mas é a dor.
Adeus. 
Finjo.