Mas fico


Dá-me de ti.
Dá-me desse tudo onde me quero perder
E perdida, em teus braços me encontrar
Abandonando a culpa de um dia não me ter permitido amar.
Despindo a pele que não sabe se um dia soube o que era amar.
A hoje sei? Não sei se sei.
Mas quero-te.
Mas fico.
Mas me encontro tantas vezes em ti.
Talvez por não saber, esteja já tao perto do que é.
E quantas vezes hesitei por te saber de outro alguém
E quantas vezes hesitei por me saber de outro alguém.
E aqui estamos nós, longe de outras almas que amamos
Longe dos tantos corpos que tocamos.               
Sempre tão perto e tão longe das memórias que eternizamos.
E ambos sabemos disso. E mesmo assim, em cacos, nos unimos.
Dizemos adeus à solidão, e nos fazemos senhores de um corpo só
Ainda que mais uma vez. Mas acreditando que esta é a vez.
E de que nos vale ter medo do amanhã? Ou até insanamente do hoje?
O que nos trás o medo de perder, senão a própria perda?
Temos ainda tanto que nos reinventar... Amor...
Porque não nos reinventarmos juntos?
Eu quero ser quem hoje me faço diante ti.
Eu quero que sejas quem hoje te fazes diante de mim.
Abandonemos o que não nos pertence mais.
Mas eu, sempre fiel à liberdade e ao desapego, sinto agora essa dor.
A dor do que possa não ser transparente.
É essa a dor que carrego na pele e não me larga.
Abre-me as mãos para que eu possa ver-te.
Olha-me nos olhos para que eu possa amar-te.
Faz-me acreditar.
Deixemo-nos viver.
Mas até para viver é necessário estabelecer o que se quer da vida.

Dás-me de ti?