Quem me perdeu



Quem me perdeu.
Quem me perdeu, sabia.
Só as tuas mãos poderiam cuidar-me. 
Encontrar-me.
Só contigo eu iria encontrar-me perdida.
O amor nunca é menos que nos encontrarmos perdidos.
E de todos os caminhos que percorri,
Por capricho ou por crença,
Foste o único onde fervorosamente desejei ficar.
Até aí, não sabia o que queria. 
Não te sabia.
Talvez tenha amado, talvez...
Mas quem me perdeu sabia,
Que quem sonha não vive das coisas lógicas.
Que só se ama quando se fecham os olhos.
Só se vive de olhos fechados.
Os loucos correm sem olhar para trás.
E quem me perdeu sabia.
Que só tu não me tentarias deter,
Que só tu correrias junto a mim.
Confesso nem sempre ter sido sincera comigo mesma,
Ninguém o é antes de conhecer caminhos 
onde se queira perder
Eu não o fui antes de (me) te encontrar.
Quem me perdeu sabia.
Tu perfeitamente para mim.
O amor nunca é menos que desejar permanecer
apesar das imperfeições.
Quem me perdeu sabia.
Que quem ainda deseja perder-se,
Não pode parar de correr.

Só poderias ser tu.

Não ousas amar



Não ousas amar.
És escravo do teu corpo. Do teu medo.
Tomas o medo por liberdade e finges para ti mesmo que és assim...
Dono dessa liberdade que escolheste,
Que nada mais te trás além de amarras.
Não te permites saborear o amargo e doce risco de amar...
Tens ânsia de te dar, mas jamais te entregas.
Tens fome de sentir, mas impões-te limites.
Como se sente com limites?
Não vale a pena tentares vender-me as tuas teorias 
já tão gastas...
Vende-as a quem ainda não tenha ousado amar,
 tal como tu.
Eu já não vou a tempo sequer de as querer ou poder entender.
Como podes não ousar amar o corpo que está nas tuas mãos e se reclama teu?
Como podes assumir-te livre e limitares-te
ao mero desejo do teu corpo?
Calas uma troca de olhares com um copo de vinho,
Esperando que tudo o que possas vir a sentir 
se dilacere naquele momento.
E dizes que não acreditas em contos de fadas...
Nem eu.
Mas o amor é indomável.
E no entanto, tu não ousas amar.